Roteiros da inovação pedagógica: Escolas e experiências de referência em Portugal no século XX
Joaquim Pintassilgo
Ana Pessoa
Anabela Teixeira
António Ferreira
Carla Moreira
Carlos Alberto da Silva Beato
Carlos Henriques
Carlos Manique da Silva
Cláudia Sofia Pinto Ribeiro de Castro
Eduardo Fonseca
Elsa Rodrigues
Eva Baptista
Francisco Araújo
Francisco Caetano
François Jean-Marie Denis Paymal
Raquel Pereira Henriques
José António Martin Moreno Afonso
Luis Alberto Marques Alves
Luís Mota
Maria Romeiras
Maria Pinto
Maria João Mogarro
Mário Vieira
Rita Santos Agudo do Amaral Rêgo
Rodrigo Martins Pinto de Azevedo
Rui Lima
Pretendemos, com este projeto, elaborar um roteiro selecionado de experiências pedagógicas inovadoras e de instituições escolares de referência ao longo do século XX em Portugal. Partindo do conceito de forma escolar (ViG94), procuraremos delimitar como objeto de pesquisa um conjunto significativo de iniciativas, tendo em vista a construção de alternativas parciais ou globais a esse modelo e que tiveram como resultado tanto a criação de escolas que procuraram apresentar-se como diferentes como o desenvolvimento de experiências pedagógicas transversais que ambicionavam uma certa exemplaridade.
Adotamos nesta investigação uma perspetiva histórica, sem recusar uma aproximação ao presente educativo. Teremos em conta todo o século XX, de modo a captar as raízes de algumas dessas experiências, mas enfatizando o período que vai de meados desse século até à transição para o século XXI pela especificidade de que se reveste, pelas implicações que tem as práticas educativas contemporâneas e pela ausência relativa de estudos sobre esse momento, o que abre boas perspetivas no que diz respeito tanto à originalidade como à atualidade da pesquisa.
Embora não estando no centro das nossas preocupações, não poderemos deixar de ter como primeira grande referência as experiências inovadoras concretizadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX, designadamente no período republicano, sob inspiração do movimento internacional da Educação Nova. A partir dos anos 30, com a institucionalização do regime autoritário português, o ambiente ideológico tornou-se claramente mais adverso. É a partir dos anos 50 e 60 do século XX que o movimento de renovação pedagógica se intensifica, com a criação de um conjunto importante de instituições que se apresentavam como alternativas à pedagogia tradicional.
À inspiração da Educação Nova junta-se, muito em particular, a pedagogia Freinet, então redescoberta e que se corporiza no Movimento da Escola Moderna, a par de outras correntes que circulavam internacionalmente. Como no caso das escolas novas, foram questionadas, agora de forma ainda mais ampla, algumas das principais dimensões da forma escolar por via de estratégias diversas como o recurso a formas alternativas de organizar tanto o tempo como o espaço escolar.
Analisam-se também as formas de lexibilização do currículo, a atribuição de um papel mais ativo aos alunos na construção do seu conhecimento ou a transformação dos papéis dos professores. Mesmo no campo oficial, os anos 60 e 70 assistiram a alguns esforços de modernização educativa que conduziram a experiências em que a vontade de inovação pedagógica estava presente, como é o caso da Telescola ou da experiência da Matemática Moderna. A democratização da sociedade portuguesa, após o 25 de Abril de 1974, mostrou-se um contexto favorável para a intensificação da escolarização dos portugueses.
Não obstante terem sido esboçadas algumas inovações que procuravam pôr em causa elementos nucleares da cultura escolar, a generalidade das escolas continuou, segundo os seus críticos, muito presa às invariantes da forma escolar e incapaz de introduzir verdadeiras transformações nessa estrutura. Esse facto continuou a alimentar a vontade de construção de projetos claramente diferenciados.
A Escola da Ponte é, porventura, o caso mais paradigmático, mas o que caracteriza, desse ponto de vista, o período de transição do século XX para o século XXI é a enorme variedade de experiências e o hibridismo pedagógico que as caracteriza, embora se mantenham presentes algumas das principais tradições de inovação. Este projeto propõe-se, em síntese, a inventariação dessas instituições e experiências inovadoras, no arco temporal indicado, e a elaboração de monografias aprofundadas sobre um conjunto selecionado de entre essas instituições e experiências.
Procuraremos, ao caracterizá-las, refletir sobre o próprio conceito de inovação, analisando-o tanto na sua historicidade como na sua atualidade, delimitando os seus contornos em articulação necessária com a noção de tradição, apelando aqui a um olhar que tenha em conta a complexidade de que se reveste um fenómeno como a inovação pedagógica, irredutível a lugares-comuns ou slogans. Aproveitaremos esta pesquisa, finalmente, para refletir sobre o caráter de vanguarda, exemplar ou alternativo deste tipo de instituições e de experiências e suas implicações no terreno, designadamente a possibilidade de as alargar ou, mesmo, de generalizar ao conjunto do sistema educativo alguns dos seus traços distintivos. Para esta pesquisa foi mobilizada uma equipa ampla, especializada e geograficamente diversa.
Foram selecionadas duas dezenas de experiências para serem analisadas com detalhe, sem prejuízo de um mapeamento mais vasto.
À pesquisa de arquivo típica da investigação histórica juntaremos algumas das estratégias da investigação interpretativa como o recurso a testemunhos orais e a observação etnográfica.
1/05/2016 – 31/10/2019
FCT (PTDC/MHC-CED/0893/2014)