Processos formativos e investigação narrativa no cruzamento de experiências em Portugal e no Brasil

O campo da formação de professores tem vindo a consolidar-se com novas investigações, que realçam as mudanças introduzidas com o designado processo de Bolonha e o papel fundamental que as práticas ocupam nos processos formativos, dando visibilidade às vozes de professores, futuros docentes e outros profissionais da educação através dos discursos narrativos que expressam as suas experiências vividas em contextos educativos. Neste sentido, o seminário coloca em diálogo diferentes experiências desenvolvidas em Portugal e no Brasil, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado sobre o tema e para o desenvolvimento de novas colaborações entre os dois países.

PROGRAMA

O caráter interventivo das pesquisas em currículos de cursos de formação de professores em exercício 

Maria Roseli G. B. de Sá  (Universidade Federal da Bahia)

A exposição abordará a relação entre Currículo e formação de professores, enfocando o caráter interventivo das pesquisas na proposta curricular de um curso de Mestrado profissional em Educação ofertado para profissionais da educação de redes de ensino pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. A pesquisa é considerada como uma Investigação em Campo Piloto, por demandar a criação de seu próprio campo, tendo como intenção contemplar a concomitância entre teoria e prática, respondendo a demandas das redes de ensino de intervenções pedagógicas na prática pedagógica dos mestrandos.

Pesquisa-formação e mulheres encarceradas

Cristhianny Bento Barreiro  e Fatiane Nogueira Silveira   (Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense, Brasil)

O trabalho apresenta a utilização de um método de pesquisa que se sustenta em uma  abordagem narrativa, a pesquisa-formação, na realização de uma investigação realizada com mulheres presas em um presídio do sul do Brasil. Recentemente, diversos presídios, anteriormente masculinos, foram transformados em mistos. Ocorre que isso acontece sem que os espaços sejam modificados, ampliados ou pensados em outras/novas necessidades e, por esta razão, são chamados de masculinamente mistos. O estudo teve por objetivo compreender os sentidos e significados atribuídos por mulheres encarceradas às suas histórias de vidas.  A pesquisa sustentou-se numa abordagem qualitativa. A partir de uma pesquisa formação, em que foram utilizados como dispositivos, a literatura, o cinema, brinquedos e revistas, as mulheres foram convidadas a escrever em diários suas narrativas de vida e suas experiências de estar neste presídio. Participaram da investigação doze mulheres, correspondendo à totalidade de presas. Através do uso deste tipo de pesquisa, foi possível afirmar que o trabalho possibilitou uma reflexão profunda das mulheres participantes sobre si, abrindo espaço para empoderamento e projetos de si, o que evidencia seu potencial de formação. Além disso, permitiu que se tivesse acesso aos sentidos e experiências vivenciados por elas, demonstrando seu potencial nas pesquisas ao visibilizar a vida dentro de uma prisão masculinamente mista. O caminho da pesquisa foi repleto de dilemas éticos e metodológicos, tendo em vista a necessidade de adaptar diversos procedimentos ao espaço do cárcere.

A formação e a profissão nas narrativas de professores: o lugar da experiência nos processos educativos

Maria João Mogarro (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa)

Revisitando as entrevistas concedidas por alunos e professores de uma insitutição de formação de professores, realçam-se as experiências educativas e profissionais que nelas são expressas e representam poderosos pontos de entrada para várias problemáticas da formação e da profissão: as vivências como alunos e formandos; as histórias de vida de professores; o género e a condição de ser professor; os contextos de exercício da profissão; a cultura profissional; os princípios éticos e deontológicos; a identidade profissional, entre outros. Os discursos dos atores educativos são assim contextualizados no interior do seu espaço social e assumem uma significativa centralidade, inserindo-se em modelos etnometodológicos e constituindo instrumentos da história cultural e intelectual que contribuem para novas produções teóricas no campo educativo.

Moderação: Joaquim Pintassilgo (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa)

Organização
Grupos de Investigação de Currículo e Formação de Professores (Maria João Mogarro) e de História da Educação (Joaquim Pintassilgo)