Avaliação do Currículo das Ciências Físicas e Naturais do 3º ciclo do Ensino Básico
Cecília Galvão Couto
Este projecto tem como finalidades (a) identificar razões para os baixos índices de literacia científica dos alunos portugueses no final da escolaridade obrigatória (b) apresentar recomendações que fomentem a literacia científica dos jovens, com aptidão, como cidadãos, para intervirem em assuntos controversos com impacto na sociedade actual e no ambiente, despertando o seu interesse pelas ciências e pelas carreiras científicas e tecnológicas. Para a consecução destas finalidades parte-se da avaliação do currículo de Ciências Físicas e Naturais do 3º ciclo do ensino básico a diferentes níveis: num cenário internacional, através (i) da análise dos resultados dos alunos portugueses no PISA (ii) da adequação dos princípios, organização e estratégias de implementação do currículo de ciências português às recomendações internacionais e à realidade europeia; no plano nacional, através (iii) da análise das estratégias que foram desenvolvidas em Portugal com vista à implementação do currículo de ciências e (iv) através do estudo dos efeitos do currículo em análise nas estratégias de ensino dos professores, na aprendizagem dos alunos e na concepção de manuais escolares.
Uma nova forma de olhar para o ensino das ciências tem vindo a ser sentida, com a constatação da disparidade entre os interesses dos alunos e a escola e a confirmação de que o crescente impacto tecnológico e o avanço do conhecimento científico requerem cidadãos com um conjunto próprio de competências em diversas áreas, facilidade de comunicação e de resolução de problemas e contínua vontade de aprender. Concebido segundo as linhas orientadoras do Currículo Nacional, um novo currículo para a área das Ciências Físicas e Naturais (desenvolvido pelo IR com alguns membros desta equipa de investigação, a convite do Ministério da Educação) organizou-se à volta de quatro temas (Terra no Espaço, Terra em Transformação, Sustentabilidade na Terra e Viver Melhor na Terra) (Galvão, 2001). Estes temas foram desdobrados em problemas que se concretizam em conteúdos e em sugestões de experiências educativas para Ciências Naturais e para Ciências Físico-Químicas, em paralelo, ao longo dos três anos terminais da escolaridade obrigatória, 7º, 8º e 9º anos. Esta nova organização curricular implica novas formas de conceber o ensino e a aprendizagem, de avaliação dos alunos e de colaboração entre professores.
Passados sete anos após a generalização deste novo currículo, o que sabemos quanto aos seus impactos? Como terá sido o currículo das Ciências Físicas e Naturais compreendido nos seus princípios, integrado nos manuais escolares e implementado nas escolas? Qual o seu efeito nas aprendizagens dos alunos? Que contributos tem tido na formação de cidadãos informados cientificamente, capazes de opiniões fundamentadas, numa perspectiva de cidadania participada?
Os resultados dos alunos portugueses em testes internacionais colocam-nos abaixo da média europeia. De que forma se podem interpretar os resultados obtidos à luz da realidade portuguesa? Que relação entre estes resultados, o currículo e a forma como tem sido implementado? Alguns estudos indicam que há sintonia entre este currículo e as recomendações internacionais, por exemplo, da OCDE (Costa, 2005). Mas, em que se aproxima e distingue o currículo português de ciências de currículos de outros países, nomeadamente europeus, em termos de fundamentos, organização e implementação? Que diferenças entre os discursos políticos e as práticas nas escolas? Este projecto nasce destas inquietações: de procurar saber qual o sentido em que caminhamos na educação em ciência em Portugal, qual a relação desse caminho com os níveis de literacia científica dos nossos alunos, o que é preciso reformular no actual currículo de modo a encontrar maior sintonia entre o que é proposto e o que é adequado ser praticado nas escolas.
As perspectivas enunciadas concretizam-se em sete tarefas do projecto: 1) Fundamentação teórica do projecto e produção de referências que servirá de orientação das actividades das diferentes tarefas; 2) Meta-análise dos resultados do PISA para a identificação dos erros e maiores dificuldades dos alunos portugueses em ciências e de eventuais factores para os resultados observados; 3) Análise comparativa do currículo português com currículos internacionais; 4) Implementação do currículo português – a perspectiva dos professores; 5) Implementação do currículo português – a perspectiva dos alunos; 6) Implementação do currículo português – a recontextualização nos manuais escolares; 7) Recomendações para o currículo português de Ciências, para a formação de professores e para a investigação.
No relatório do projecto constarão os fundamentos para uma proposta de reformulação do currículo, agenda para a investigação e a formação, consonante com as exigências internacionais e as necessidades evidenciadas por professores e alunos, com o objectivo de um maior sucesso na educação em ciências.
FCT. PTDC/CPE-CED/102789/2008