Cyberbulliyng – um diagnóstico da situação em Portugal
João Amado
A problemática do bullying entre crianças e jovens tem vindo a ser, em Portugal, tal como noutros países, de há uma década a esta parte, objecto de grande atenção por parte da opinião pública em geral e de alguns investigadores das áreas das Ciências da Educação, Psicologia e Sociologia.
Ultimamente, porém, os meios de comunicação têm vindo a dar notícia de situações muito graves relacionadas com uso das novas tecnologia da comunicação e da informação para fins ilícitos, de entre os quais se destaca a sua utilização, por parte de crianças e jovens, para perseguir e molestar sistematicamente colegas de escola e outros. Trata-se, neste caso, de uma forma indirecta de bullying (reforçando acções anteriores desse género, ou sem que haja antecedentes) e que se tem vindo a designar por cyberbullying (Belsey, 2005; Smith et al., 2006; Hernandez & Solano, 2007).
Estas novas formas de violência ampliam incomensuravelmente as consequências do bullying tradicional, estudadas hoje em todo o mundo, depois dos estudos pioneiros de Olweus nos anos setenta (Olweus, 1993) e da sua equipa. Nesse sentido, pode dizer-se que se trata de problemas que afectam gravemente o clima de trabalho e o ambiente educativo e de aprendizagem que deve reinar nas escolas, colocam em risco a saúde mental das crianças e dos jovens e põem em causa direitos fundamentais dos cidadãos.
Apesar da grande preocupação causada pela divulgação deste fenómeno, os responsáveis políticos e educativos não possuem uma ideia da dimensão e das diversas facetas do problema e sentem-se um pouco perplexos e desorientados no momento em que urge tomar medidas preventivas.
Embora a problemática já tenha começado a ser objecto de alguma investigação em diversos países, em Portugal não há, até ao momento, um estudo exclusivamente centrado sobre ela, que nos possa dar uma ideia realista do problema. É no sentido de colmatar essa lacuna que a equipa de investigadores signatários deste projecto se propõe levar por diante um estudo que procure, como o seu primeiro objectivo, proceder a um diagnóstico e uma caracterização do problema, inquirindo acerca da percepção do mesmo junto de crianças e jovens portugueses, de ambos os sexos, tendo em conta os contextos (grandes cidades e zonas de província) em que situa a sua vida escolar e familiar.
Neste diagnóstico, para além de procurarmos estabelecer um confronto entre contextos, interessa-nos ainda, saber quais os tipos de comportamentos agressivos mais habituais (troça, chantagem, ameaça, aliciamento, etc.), quais as tecnologias mais utilizadas (correio electrónico, mensagens por telemóvel, páginas pessoais, hi 5, You Tube, etc), que conhecimento possuem destes perigos e em que situações o obtiveram, que estratégias usam para os evitar, etc.
Além de procurarmos fazer esta caracterização através da aplicação de um questionário a uma população significativa de crianças e jovens portugueses, dos segundo e terceiro ciclos do ensino básico e do ensino secundário, interessa-nos obter uma caracterização mais aprofundada do problema através de entrevistas a crianças e jovens do segundo e terceiro ciclos do ensino básico, de ensino secundário e do ensino universitário. Neste último caso, procuraremos, através da invocação de algumas histórias de vida, esclarecer melhor as estratégias psicológicas utilizadas pelos jovens, para lidar com o problema.
FCT. PTDC/CPE-CED/108563/2008