Escolas de Formação de Professores em Portugal: História, Arquivo, Memória

Investigador responsável

Joaquim Pintassilgo

Resumo

O presente projecto propõe-se realizar um trabalho de pesquisa e de divulgação, numa perspectiva histórica, sobre um conjunto amplo de instituições de formação de professores – as Escolas Normais Primárias, depois Escolas do Magistério Primário, e, também as Escolas Normais Superiores. Este é um trabalho de grande premência, já que são escassas as monografias sobre as referidas escolas, estando em boa medida por organizar os respectivos arquivos.

A ideia de que para se ser professor é necessária uma formação relativamente longa no interior de instituições vocacionadas para o efeito é uma ideia que se vai esboçando ao longo da 1ª metade do século XIX e se consolida na 2ª metade do mesmo século, em particular a partir do início de funcionamento, em 1862, da Escola Normal Primária de Marvila, destinada à formação de professores de instrução primária do sexo masculino. Em 1866 começa a funcionar a Escola Normal Primária para o sexo feminino, situada no Calvário. Em 1930, na transição da Ditadura Militar para o Estado Novo, estas escolas são rebaptizadas, passando a ser designadas, até à sua extinção, por Escolas do Magistério Primário. Em 1901 inicia-se, no âmbito do Curso Superior de Letras, a formação deprofessores para o ensino secundário. Na sequência da reforma republicana de 1911, começam a funcionar, em 1915, nas Universidades de Lisboa e de Coimbra, duas Escolas Normais Superiores, igualmente extintas em 1930. As Escolas Normais vão-se transformando, a pouco e pouco, em contextos privilegiados para a formação profissional dos futuros professores, onde a aprendizagem dos saberes a ensinar procura articular-se, em modalidades diversas e, por vezes, polémicas com a aquisição de conhecimentos e de competências tendo em vista o saber ensinar e, também, com uma aprendizagem de carácter prático vulgarmente conhecida por estágio. Uma das dimensões da pesquisa é a que se refere à história específica de cada uma das instituições seleccionadas. As escolas de formação de professores, como todas as organizações escolares, têm um percurso vital próprio e, ainda que contextualizado, dotado de uma autonomia relativa e definindo uma cultura própria. Daremos uma atenção muito particular aos actores envolvidos na actividade de cada uma das escolas. Os directores, com os diferentes estilos de liderança que os caracterizam, são um elemento importante no que se refere à actividade de cada uma dessas instituições. Os professores, com os seus perfis pessoais, percursos de formação, opções pedagógicas e didácticas, produções escritas e formas de intervenção na comunidade contribuem, em boa medida, para a concretização de uma dinâmica própria. Não esqueceremos os alunos, as suas origens geográficas e sociais, o seu percurso escolar, a marca deixada na instituição, o seu destino profissional.

Preocupar-nos-emos, igualmente, com a caracterização dos espaços que as diversas escolas foram ocupando, pano de fundo das vivências dos actores e que se articulam com as respectivas memórias. A organização do tempo escolar será outro elemento a ser tido em conta, o mesmo acontecendo em relação às práticas de vigilância e de controlo de alunos e professores e aos rituais que pontuam o quotidiano escolar e que contribuem para a construção de uma identidade própria.

O currículo das escolas de formação de professores é outra das dimensões essenciais do modelo e da cultura escolares a ser incluída no nosso plano de trabalhos. Procuraremos analisar historicamente as diferentes e complexas formas de combinação entre as componentes consideradas fundamentais para a formação, de forma a apreender qual o perfil ideal do professor a formar em cada momento histórico e quais os valores e regras que enquadravam a sua socialização profissional.

Um elemento importante para o conhecimento histórico das referidas escolas é o que nos é dado pelas publicações a que elas deram origem, sejam elas revistas da instituição ou dos seus alunos. Estas publicações são uma fonte privilegiada para o conhecimento do quotidiano das escolas. Para além da sua intervenção jornalística, os professores foram, muitas vezes, autores de manuais pedagógicos ou de obras literárias. Os espólios das bibliotecas das Escolas Normais são, igualmente, um excelente indicador do seu projecto de formação e dão conta dos autores do campo pedagógico mais valorizados e das leituras sugeridas aos alunos em formação.

O conjunto de temas anteriormente recenseado constituirá uma espécie de roteiro de análise das diferentes escolas de formação de professores. Utilizaremos, para tanto, todo o elenco de fontes actualmente disponível para a investigação em história da educação.

Para além do trabalho de elaboração de monografias do conjunto das escolas seleccionadas, o presente projecto pretende, também, proceder a um levantamento amplo dos fundos documentais, bibliográficos, materiais e iconográficos de cada uma das instituições, para além de compilar os testemunhos orais possíveis que se lhes referem.

Fonte de financiamento

FCT. PTDC/CPE-CED/100797/2008

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